A Residência

Maria Luisa e Oscar Americano começaram a conceber a casa com o arquiteto Oswaldo Bratke, amigo, sócio e vizinho. O fundamento defendido por Bratke era o seguinte: a casa deve ser adaptada ao Homem e não o Homem à casa, o que levava o arquiteto a interpretar os desejos e necessidades de seus clientes. 

Conhecedor dos hábitos da família Americano e de suas expectativas em relação à nova morada, Bratke identificou uma das linhas mestras do trabalho: integrar o parque à casa. 

Idealizada a partir de 1952, a residência é uma das principais obras desenhadas pelo arquiteto em sua maturidade profissional e consolida todos os elementos que marcaram sua fase mais criativa: a simplicidade de meios, a racionalidade e a flexibilidade espacial, a clareza estrutural, o predomínio de volumes puros e horizontais, a integração entre exterior e interior e o diálogo com entornos e paisagens. Estabelece, assim, um novo modelo brasileiro de morar, que rompia com velhos e anacrônicos padrões domésticos do país. 

A casa, com área aproximada de 1,5 mil metros quadrados, é um dos mais notáveis exemplos de harmonização entre arquitetura e natureza já realizados por Bratke. A volumetria acomoda-se cuidadosamente sobre uma elevação, evitando interferir no perfil do terreno. As formas horizontais da edificação buscam estreito intercâmbio com os entornos. Desde os interiores, amplas aberturas e transparências captam belas vistas das paisagens – da parte social, vertente sul, podia-se avistar ao longe a região da Paulista. Pátios e terraços trazem para perto os jardins, debruçando-se sobre eles e assimilando os elementos paisagísticos como parte indissolúvel da própria arquitetura. 

O parque, a casa e o pavilhão de lazer foram planejados em estreito diálogo, somando-se a eles outras contribuições plásticas, como murais, mosaicos e esculturas, segundo uma ideia de integração das artes. 

O olhar inovador de Maria Luisa e Oscar está patente na íntima relação de sua residência com a arte de vanguarda. Além de escolherem dois dos mais destacados profissionais da arquitetura e do paisagismo da São Paulo da época para os projetos da casa e do parque, contrataram Lívio Abramo, artista pioneiro da gravura moderna brasileira, para desenhar os mosaicos do piso que recobrem o pavimento inferior, denominados Foz do Rio Amazonas e Circo. Karl Plattner, pintor e desenhista italiano que trabalhou no Brasil entre 1952 e 1955, compôs o mural cerâmico do pavilhão de lazer. Emanuel Manasse é o autor da escultura em bronze nas imediações da área da piscina. Além disso, o casal adquiriu mobiliário de estilo moderno no renomado escritório e loja da época, a Branco e Preto, além de cortinas e tapeçarias com padronagens de Fayga Ostrower e obras de artistas como Di Cavalcanti, autor da tela Cais. 

Ao longo da década de 1960, Maria Luisa e Oscar Americano substituíram a decoração e o mobiliário inteiramente Modernista do projeto inicial de sua residência por um estilo contrastante, com móveis e peças típicas do período colonial, telas históricas, arte sacra, prataria e porcelana. Não obstante, o casal continuou a adquirir obras de destacados artistas contemporâneos brasileiros, mesclando a ambientação da casa – marco da Arquitetura Moderna. 

Embora a estrutura tenha sido preservada como no tempo em que era habitada, algumas reformas foram feitas, sobretudo com o objetivo de adequar os quartos a um ambiente expositivo. As alterações mais significativas foram a supressão do forro abobadado no salão principal e do painel de lambri, de Lívio Abramo, que separava a área social da parte mais íntima da residência. Também foram adaptados os espaços anteriormente destinados à sala de almoço, à cozinha e aos sanitários, tendo sido suprimidas as paredes divisórias entre os dormitórios, o que garantiu mais espaço para as salas de exposições. Do mesmo modo, a sala de estar, no térreo, foi transformada em auditório.