Compromisso com o Futuro







Há uma diferença significativa entre homens que, mediante nobres iniciativas, conquistam o reconhecimento público de seus contemporâneos e aqueles que, por suas ações produtivas e abrangentes, promovem o curso dos acontecimentos. Tanto uns quanto outros são figuras indispensáveis no cenário do desenvolvimento histórico de uma sociedade. Os primeiros têm suas contribuições circunscritas a determinados períodos e épocas. Os segundos vencem as barreiras do tempo com a atualização constante de suas realizações. Se aqueles acrescentam novas referências e fatos às tradições de uma cultura, estes são civilizadores que, no bojo do presente, antecipam as transformações do futuro.
Oscar Americano, na história da cidade de São Paulo, com ressonâncias nacionais, encarna a figura do civilizador
Sua biografia coincide com momentos decisivos que consolidaram o crescimento econômico e social da metrópole paulistana no século 20, espelho e alavanca do crescimento do país.
Essa coincidência seria apenas cronológica se não retratasse, para além da personalidade de Oscar Americano, a força de sua capacidade para prever, construir, transformar e abrir caminhos em direção ao progresso e à geração de ideias e riquezas. A sintonia de sua trajetória pessoal com os marcos da evolução de São Paulo e do País evidencia suas virtudes de empreendedor, cujo senso prático de modernidade torna-o protagonista natural e eficaz dessa mesma evolução.
No quadro desses momentos decisivos, constam a revolução estética da Semana de Arte Moderna de 1922, a Revolução Constitucionalista de 1932, a consolidação do grande parque industrial da cidade nos anos 40 e a expansão urbanística e arquitetônica dos anos 50, refletida no cosmopolitismo da São Paulo de nossos dias.
Em consonância com as tendências dessa fase de inovação, Oscar Americano fundou uma empresa de engenharia com alto padrão tecnológico e racionalização de desempenho, posicionando-se na vanguarda nacional do setor. Desenhou a urbanização do Morumbi, bairro que, na geografia de São Paulo, conecta a zona sul da metrópole com todo o seu sistema viário, através da atual Avenida Oscar Americano, um dos acessos ao Túnel Presidente Jânio Quadros. Construiu, no mesmo bairro Morumbi, a casa para residência de sua família, implantando em seu entorno um amplo jardim, pioneiro e valioso nicho da diversidade da flora brasileira. Por sua concepção funcional, jardim e casa representam um modelo precursor do equilíbrio ambiental atualmente exigido pelos princípios contemporâneos de preservação ecológica. Entendendo a cidade como um organismo vivo, capaz de crescimento autossustentável, Oscar Americano criou, ainda, na zona leste, o Parque do Carmo, uma das maiores reservas paisagísticas de São Paulo.
Oscar Americano sempre investiu sua vocação desbravadora em prol da qualidade de vida e do aprimoramento de seus concidadãos. Embora apreciador sensível das artes, seu perfil de realizador não se confundia com a figura clássica do mecenas ou do protetor diletante de manifestações culturais. Pelo contrário, ao pôr em prática seus múltiplos projetos, voltava-se para os outros, sem buscar reverência à própria imagem. Diante do legado que deixou, coube – isto sim – a sucessores e pósteros colherem e difundirem os benefícios sociais das iniciativas que consolidou.
Assim, a maior reverência que se lhe poderá prestar será sempre a de dar continuidade aos frutos do seu dinamismo transformador, impedindo que se convertam em inventário inerte ou acervo passivo de museu.
Afinal, o civilizador é aquele que, acima de tudo, acredita nos efeitos multiplicadores de sua ação, prevendo, no presente, o desdobramento do futuro.
A Fundação Maria Luisa e Oscar Americano testemunha essa verdade. Instituída com o seu nome e o de sua esposa, extraordinária companheira que o inspirou em todos os momentos, a Fundação não nasceu para ser templo de acomodações e memórias estagnadas. Núcleo vivo em que o passado se revitaliza e atividades se renovam, a Fundação cumpre, exemplarmente, a missão cultural a que foi destinada.