O Parque

A área verde onde se encontra a Fundação Maria Luisa e Oscar Americano era muito diferente no início da década de 1950. Estava recoberta basicamente por gramíneas, eucaliptos, pinheiros e pouco restava da cobertura de Mata Atlântica de outrora. 

Otávio Augusto Teixeira Mendes (1907-1988), que já́ havia trabalhado em outros projetos de Oscar Americano, como na Via Anchieta (1948) e na Fazenda Nossa Senhora do Carmo (1951), foi o paisagista escolhido para projetar e implantar o parque na propriedade de 75 mil metros quadrados. Costumava desenvolver estudos em plano de massas, especificando posteriormente as espécies que os comporiam. No entanto, para esse projeto, além da estrutura espacial e das massas de vegetação, foram elaborados desenhos enfocando os diferentes períodos de floração. 

O contrato estabelecia que os serviços de Teixeira Mendes seriam pagos “por árvore de qualidade, plantada e vingada”. Em cerca de um ano, concluiu seu trabalho, recebendo o correspondente ao inestimável serviço que realizara: 25 mil árvores de várias espécies “plantadas e vingadas”. 

Um dos aspectos determinantes adotados no projeto foi reintroduzir principalmente árvores originárias da Mata Atlântica, organizando-as numa composição plástica moderna. Jacarandás, sibipirunas, angicos, paus-ferro, paus-brasil e muitos outros podem ser ali encontrados – retrato vivo e condensado da extensa riqueza natural do Brasil. Essa estratégia, inovadora na capital paulista da época, antecipava o sentimento de preservação ambiental que se espalharia pelo mundo décadas depois. 

Do menor detalhe ao conjunto, tudo foi pensado para convergir na solução plástica desses jardins, um dos melhores trabalhos da maturidade profissional de Teixeira Mendes. O papel de cada estrato de vegetação foi detidamente estudado. As mudas das árvores foram especificadas e plantadas, compondo grupos coesos, expressivos e assimétricos, relacionados uns aos outros através de contrastes de porte, forma, textura e cor das folhas. 

Outra estratégia central lançada por Teixeira Mendes foi harmonizar questões técnico-funcionais e estéticas. As alamedas e esplanadas foram acomodadas à topografia acidentada do terreno e sombreadas, de modo a permitir um caminhar agradável. Esses passeios formavam a coluna dorsal do projeto. A partir deles, o paisagista organizou uma sucessão de espaços com escalas bem diferenciadas, arrematando-os com aberturas para vistas intimistas ou amplos panoramas, que transformavam o percurso numa experiência permanente de descoberta e surpresa. 

Quanto à cor, os jardins foram elaborados principalmente a partir de gradações de verde. A presença de outras cores foi prevista como ocasional e transitória, proporcionada pela floração de arbustos e herbáceas. 

Pesquisando magistralmente contrastes de luz e sombra, de transparência e opacidade, de escalas horizontais e verticais, Teixeira Mendes criou paisagens impossíveis de serem compreendidas em um rápido olhar ou de um único ponto de vista. Criou-as, antes, para serem fruídas como estimulante somatório de percepções. 

Genericamente, pode-se perceber que, de 1955 ao momento atual, os estratos arbustivos e de forração foram intensamente alterados, porém, a estrutura do projeto permanece, com intensidade e em porte adulto, devido à cuidadosa e ininterrupta manutenção, constituindo-se, assim, em uma das mais importantes áreas  verdes da cidade de São Paulo.