Mestres do Século XX








{"time":1747678015517,"blocks":[{"type":"Header","data":{"text":"O REPERTÓRIO VISUAL MODERNO NO ACERVO DA FUNDAÇÃO MARIA LUISA E OSCAR AMERICANO ","level":2}},{"type":"paragraph","data":{"text":"Os sinais de modernização do sistema artístico brasileiro tornaram-se perceptíveis desde o final do século 19, especialmente a partir das cenas de realismo popular de Almeida Júnior, que criava com imagens um cotidiano em latente metamorfose. Dois contextos distintos teciam a compreensão possível de um país cujas estruturas sociais, políticas e artístico-culturais estavam em constante mutação. O primeiro, ligado ao Brasil colonial, ancorava suas perspectivas de futuro nas certezas de um passado marcado por inúmeras formas de violência e pelo apego a valores que não correspondiam aos ideais da jovem nação. O segundo, ligado aos fluxos emancipatórios da República, projetava um país de políticas culturais arrojadas e, sobretudo, atento às profundas mudanças provocadas pelos movimentos artísticos modernos em nível internacional. "}},{"type":"paragraph","data":{"text":"Neste contexto, amplamente discutido pela historiografia da arte brasileira, torna-se notável um conjunto de ações e eventos que gradativamente robusteceram e firmaram a cena artística moderna. As experiências com desenho industrial realizadas por Eliseu Visconti no final do século 19, a primeira exposição de Lasar Segall em 1913, a incontornável Semana de Arte Moderna de 1922, os núcleos artísticos em São Paulo e no Rio de Janeiro – Grupo Santa Helena e Núcleo Bernardelli – e tantos outros agenciamentos consolidaram não somente um sistema de arte nacional, percebido por parte da população, mas também uma projeção daquilo que nos identificava enquanto nação culturalmente próspera e moderna na cena internacional. "}},{"type":"paragraph","data":{"text":"O interesse crescente no Brasil profundo – marcado pela dor da escravidão, pelos atributos culturais provenientes de nossas matrizes culturais e pela conquista de riquezas em expansão – faria com que as décadas iniciais do século 20 fossem percebidas como um tempo de reconfiguração do pensamento artístico, que passaria a privilegiar o produto cultural local em detrimento daquilo que chegava gratuitamente da antiga matriz colonial. Em resumo, alteram-se os referenciais de pensamento sobre o país e tudo o que aqui se produzia de valor, alçando o nosso produto artístico e cultural a um lugar de prestígio e reconhecimento, a exemplo da aceitação de artistas brasileiros em exposições e eventos internacionais. "}},{"type":"paragraph","data":{"text":"A representação desse Brasil, expondo suas distintas realidades e renunciando a uma representação idílica de nossa gente, foi foco de interesse das primeiras gerações de Modernistas. Para elas, não bastava representar os tipos brasileiros e seus traços culturais, era preciso produzir uma imagem geradora de reflexão sobre a realidade enfrentada por grande parte da população e, também, propagar as belezas de nosso lugar e de nossa gente. De Portinari a Guignard, é o desejo de entender-se moderno no Brasil que ocupa o lugar central nas pesquisas visuais e no desenvolvimento de uma espacialidade inédita para a pintura. Sejam os trabalhadores dos cafezais ou retirantes nordestinos de Portinari, sejam as montanhas de Ouro Preto delicadamente delineadas por Guignard, a imagem moderna na pintura brasileira traduz a nova compreensão dos valores do século 20 num contexto ainda muito ligado às tradições. "}},{"type":"paragraph","data":{"text":"Apesar do avanço fundamental das práticas artísticas e intelectuais brasileiras até os anos 50, que nos colocaram em posição de reconhecimento internacional, a produção da arte notadamente moderna levou mais tempo para ser assimilada e bem aceita pela população. Os esforços realizados pela equipe estadonovista no Ministério da Educação e Cultura, que lançou, nos anos 30, um arrojado programa com edificações modernas, como salões de artes, não seriam suficientes para mover a opinião pública – localizada majoritariamente nos estados do sudeste – à compreensão do valor dessa produção. Somente após o final dos anos de 1940 e ao longo da década de 1950, com a criação do Salão Nacional de Arte Moderna, dos Museus de Arte Moderna – no Rio de Janeiro e em São Paulo – e das Bienais de São Paulo é que essas obras e projetos artísticos passam a comover uma parcela significativa da sociedade, tornando-se parte de coleções públicas e particulares. "}},{"type":"paragraph","data":{"text":"É preciso destacar a importância das coleções particulares nesse processo de legitimação, como é o caso do papel desempenhado pela Fundação Maria Luisa e Oscar Americano. Ao adquirir obras dos artistas modernos brasileiros, o casal tanto incentiva a produção de jovens artistas quanto contribui para a legitimação dessas obras enquanto documentos culturais importantes de seu tempo e lugar. Visto que a coleção dispõe de um recorte abrangente, com obras de arte e mobiliário que remontam ao período colonial e vão até o século 20, a escolha em adquirir exemplares de Arte Moderna revela não somente um compromisso com a cultura nacional, mas também a compreensão de que a arte se desenvolve ao longo dos séculos, respondendo às demandas de seu tempo através de meios específicos ao momento presente. "}},{"type":"paragraph","data":{"text":"Nas peças que constituem a coleção de Arte Moderna, todas únicas em seus aspectos formais, destaca- se a predominância de temas sociais e a escolha de artistas que desenvolvem seus trabalhos a partir de uma compreensão local da cor. Em Portinari, Clóvis Graciano, Di Cavalcanti, Lasar Segall ou Guignard, as cores e a luz do Brasil criam uma atmosfera que envolve as cenas e personagens a fim de localizá-los em seu tempo, espaço e cultura. As cenas de trabalho, dança, brincadeiras ou paisagem realizam uma espécie de síntese visual do Modernismo brasileiro de modo particular, sem, contudo, renunciar à coerência e a sobriedade de todo o acervo. O mesmo pode-se dizer das peças escultóricas de Victor Brecheret e Bruno Giorgi, que reificam esta vontade moderna na coleção, bem como um apreço pelas peças que revelem em si mesmas as marcas do momento de transição em que foram produzidas. "}},{"type":"paragraph","data":{"text":"Documento de seu tempo, o acervo Modernista da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano é parte indispensável do conjunto artístico moderno brasileiro, uma vez que suas obras registram momentos ímpares da trajetória de cada artista representado e da própria arte brasileira."}}],"version":"2.18.0"}
Shannon Botelho
Artistas

Alberto da Veiga Guignard (1896-1962)
Alberto da Veiga Guignard (1896-1962)
{"time":1748622727521,"blocks":[{"type":"paragraph","data":{"text":"Paisagista que retornou ao Brasil em 1929 após estudar em Munique e Florença, é um dos mais admiráveis intérpretes da natureza brasileira, além do maior vedutista das velhas cidades históricas mineiras. De suas obras, a Fundação possui um curioso biombo constituído por três folhas ou painéis, pintadas na frente e no dorso e entremostrando paisagens montanhosas e vistas em parte reais, em parte imaginárias, de Ouro Preto, sua “cidade-amor inspiração”, como escreveu pouco tempo antes de morrer. Trata-se da pintura em que esse incurável romântico deu vazão a uma poética concepção do espaço geográfico – que, a seus olhos, sempre se confundiu com o espaço dos sonhos."}}],"version":"2.18.0"}

Bruno Giorgi (1905-1993)
Bruno Giorgi (1905-1993)
{"time":1748622849502,"blocks":[{"type":"paragraph","data":{"text":"Escultor, filho de imigrantes italianos, muda-se ainda menino com a família para Roma, onde estuda desenho e escultura. Em 1931, é preso por motivos políticos, sendo extraditado para o Brasil em 1935. Em São Paulo, conhece Alfredo Volpi. Em 1937, viaja para Paris, onde frequenta academias e estuda com Aristide Maillol. Em 1939, retorna a São Paulo e convive com Mario de Andrade, Lasar Segall, Oswald de Andrade e Sérgio Milliet. Em 1943, transfere-se para o Rio de Janeiro e lá́ instala um ateliê̂, no qual orienta jovens artistas. Possui obras expostas em espaços públicos no Rio de Janeiro, em Brasília e São Paulo. Do artista, a Fundação possui o estudo Os jovens. "}}],"version":"2.18.0"}

Clóvis Graciano (1907-1988)
Clóvis Graciano (1907-1988)
{"time":1748622901622,"blocks":[{"type":"paragraph","data":{"text":"Pintor, desenhista, cenógrafo, gravador, ilustrador e muralista, reside na cidade de São Paulo a partir de 1934, onde realiza estudos com o pintor Waldemar da Costa. Em 1937, passa a integrar o Grupo Santa Helena, com Francisco Rebolo, Mario Zanini e Aldo Bonadei. Frequenta o curso de desenho da Escola Paulista de Belas Artes até 1938. Participa regularmente dos salões de artes e em 1949 viaja para Europa com o prêmio recebido do Salão Nacional de Belas Artes. Permanece dois anos em Paris, onde estuda pintura mural e gravura. A partir dos anos de 1950, dedica-se principalmente à pintura mural. Ao longo de sua carreira, permanece fiel ao figurativismo, com o predomínio de temas sociais. Do artista, a Fundação possui a pintura Figuras."}}],"version":"2.18.0"}

De Lasar Segall (1891-1957)
De Lasar Segall (1891-1957)
{"time":1748622964696,"blocks":[{"type":"paragraph","data":{"text":"A Fundação possui a Paisagem de Campos do Jordão, da fase final de sua carreira. Com sua temática marcada pela dor e pela solidão, a obra representa um intervalo de lirismo e de bucólica suavidade."}}],"version":"2.18.0"}

Di Cavalcanti (1897-1976)
Di Cavalcanti (1897-1976)
{"time":1748623144352,"blocks":[{"type":"paragraph","data":{"text":"Idealizador e um dos principais participantes da Semana de Arte Moderna, é autor de Cais, uma soberba pintura de 1955 em que se fazem presentes simultaneamente suas melhores qualidades de colorista dramático, expressionista e lírico."}}],"version":"2.18.0"}

Cândido Portinari (1903-1962)
Cândido Portinari (1903-1962)
{"time":1748623219200,"blocks":[{"type":"paragraph","data":{"text":"Chefe da Escola Brasileira de Pintura, posto a que ascendeu em 1935 quando, numa exposição internacional de arte em Pittsburgh, nos Estados Unidos, seu quadro Café́ foi premiado com menção honrosa. Na Fundação, marca presença com três obras: Favela com Músicos, notavelmente composta, Menino com Arapuca e a mais poética Meninos e Piões."}}],"version":"2.18.0"}

Victor Brecheret (1894-1955)
Victor Brecheret (1894-1955)
{"time":1748623326125,"blocks":[{"type":"paragraph","data":{"text":"Escultor que, ao lado de Lasar Segall e de Anita Malfatti, iniciou o movimento Modernista no país, preludiando, de certo modo, a Semana de Arte Moderna de 1922. Dele, a Fundação possui a Pietà, em pedra sabão, datando do ano do seu precoce falecimento."}}],"version":"2.18.0"}